ANÁPOLIS GOIÁS
CONEXÃO SERTANEJA
Atualizado em 01/04/2025 - 20:04
montagem com as fotos de Alexis e Alexei Romanov
Aléxis, na esquerda, afirmou durante toda sua vida ser Alexei Nikolaevich Romanov, da direita (Fotos: Arquivo O Cruzeiro/Wikipedia)

A mais de 14 mil quilômetros da Rússia, mais precisamente em Cuiabá (MT), viveu um homem que afirmava ser o último herdeiro dos Romanov. Aléxis, como era conhecido, trabalhou como mecânico na capital mato-grossense, embora sustentasse que era, na verdade, Alexei Nikolaevich Romanov, o filho do último czar russo, Nicolau II.

A história oficial, no entanto, traz que a família imperial russa tenha sido executada em 17 de julho de 1918. Alexei Nikolaevich Romanov, o único filho homem do czar e da czarina Alexandra Feodorovna, teria sido executado junto com seus pais e irmãs. No entanto, seus restos mortais não foram encontrados, o que alimentou teorias de que alguns membros da família imperial poderiam ter sobrevivido.

O misterioso imigrante russo

Em 1925, desembarcou no porto do Rio de Janeiro um imigrante russo que compartilhava praticamente o mesmo nome, parentesco e data de nascimento com o falecido príncipe. Este homem, que se apresentava como Aléxis, terminaria por se fixar em Cuiabá, Mato Grosso, onde viveu como mecânico até o fim da vida.

Segundo seu bisneto, Manoelito Pires da Cunha Júnior, explicou ao portal ‘O Livre’, Aléxis teria fugido da Rússia como marinheiro e chegado ao Brasil no navio “Oriente”. O dito descendente imperial russo estabeleceu-se em Cuiabá nos anos 1930, onde montou seu negócio, casou-se e formou família. No entanto, o mecânico sempre sonhou em retornar à Rússia e proclamar o trono.

Na imagem, certidão de registro de Alexis Romanov. Cuiabá (MT), 27 de janeiro de 1970. Fundo Serviço de Polícia Marítima, Aérea e de Fronteiras/MS.

Entre a crença e a desconfiança

Para sua família, não havia dúvidas: Aléxis era realmente o príncipe russo. “Minha avó, meu pai, todos acreditavam, não tinha como ser mentira, ele falava detalhes da história, detalhes do palácio onde morava”, disse Manoelito Júnior. O bisneto, inclusive, chegou a pesquisar por um mês com a intenção de escrever um livro sobre a história do bisavô.

O que fortaleceu ainda mais a crença da família de Aléxis com a história foi uma suposta visita oficial de um diplomata russo, identificado por Manoelito como Eugene Voronin, vice-cônsul da Rússia no Brasil. Segundo o bisneto, o diplomata teria confirmado a identidade real de Aléxis e oferecido uma volta ao país soviético, com a condição de que ele mantivesse silêncio sobre sua identidade.

Porém, jornalistas e entrevistadores não compartilhavam da mesma convicção. João Martins, repórter da revista O Cruzeiro, classificou o relato do russo como “enrolado”, declarando abertamente sua descrença. Mesmo no programa do apresentador Jô Soares, o tom de brincadeira predominou durante a entrevista com o autoproclamado herdeiro dos Romanov.

A verdade científica e as teorias alternativas

Em 1996, mesmo ano da morte de Aléxis, foi realizado um teste de DNA que deu resultado negativo para a relação com a família Romanov. O idoso reagiu com indignação, acreditando haver uma “conspiração” para impedi-lo de receber sua herança.

Curiosamente, segundo Manoelito, existiria um segundo exame que sugeria que Aléxis seria filho apenas da czarina Alexandra Feodorovna. O bisneto elabora uma teoria segundo a qual a czarina teria tido um caso com um general, descoberto pelo czar, que teria ordenado a execução do amante mas mantido silêncio ao esperar pelo nascimento do filho homem.

Aléxis faleceu em 1996, aos 92 anos, na cidade brasileira que o acolheu (Foto: José Carlos Moreira)

A descoberta das ossadas da família Romanov em 1979 já lançava dúvidas sobre a história de Aléxis. Faltavam apenas os restos mortais de dois membros: Alexei e Maria. Em 2007, esses restos foram finalmente encontrados, tornando cientificamente inverossímil a história do “Czar de Cuiabá”.

Aléxis faleceu em 1996, aos 92 anos, após três atropelamentos, em uma cama no Pronto Socorro de Cuiabá. Independentemente da veracidade de sua história, o torneiro mecânico deixou um legado de fascínio e mistério, além de uma pitada de dúvida acerca da memória da última dinastia imperial russa em terras brasileiras.

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