O número de pessoas com ensino superior completo e empregadas cresceu 15,5%, entre 2019 e 2022. No entanto, a maior parte destes trabalhadores está em ocupações que não exigem esse nível de escolaridade. Os dados são do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), e se baseiam na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PnadC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O levantamento aponta aumento de 22% no percentual de pessoas com nível superior trabalhando como balconistas ou vendedores de loja. Também cresceu 45% o número de graduados que trabalham em enfermagem como profissionais de nível médio.
O número de ocupados com ensino médio completo cresceu 7,1% e o número total de ocupados aumentou 4%. “Nesse sentido, o aumento de ocupados com maiores níveis de instrução acompanhou a ampliação da escolaridade da sociedade brasileira como um todo”, diz o Dieese.
Dos 704 mil motoristas de aplicativo, cerca de 86 mil (12%) têm ensino superior completo, excluindo os taxistas. O maior número é de profissionais com ensino médio completo (461 mil ou 65,48%). Entre os entregadores, do total de 589 mil, cerca de 70 mil (11,88%) completaram o curso superior.
Escolarização
A tendência reflete o aumento (14,9%) do número de pessoas em idade ativa, ou seja, de 14 anos de idade ou mais, com ensino superior completo, na comparação entre 2019 e de 2022. Isso equivale a cerca de 3,7 milhões a mais pessoas com tal qualificação.
O Dieese destaca, no boletim, que o fenômeno do aumento da escolarização, especialmente no ensino superior, já ocorre há vários anos em decorrência da ampliação das universidades públicas e de programas federais de acesso e financiamento às universidades privadas, principalmente a partir do início dos anos 2000.
“Porém, percebe-se cotidianamente a dificuldade das pessoas com diploma de nível superior de conseguir algum trabalho compatível com essa escolaridade, devido aos problemas estruturais da economia brasileira, que apresenta crises recorrentes e baixo crescimento, especialmente nos últimos anos”, diz o texto.
Rendimentos
O rendimento médio caiu 0,5% para o total de ocupados. Entre os que têm ensino médio completo, a queda do rendimento real foi de 2,5% e, entre aqueles com ensino superior completo, caiu 8,7%.
O Dieese chama a atenção para que esses dados não sirvam de desestímulo para que pessoas de famílias de baixa renda cursem o ensino superior. “Mas, sim, para a discussão da necessidade de dinamizar e adensar a economia brasileira a fim de gerar postos de trabalho mais complexos”, diz o texto. A instituição lembra ainda que as informações mostram a necessidade de políticas públicas de financiamento para que pessoas de baixa renda acessem universidades.
Muitos formados para poucas vagas?
Apesar da ideia difundida de que o Brasil possui um “excesso“ de pessoas com diploma de ensino superior, o levantamento ‘Education at Glance‘, elaborado pela Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e publicado no final de 2021 aponta que o país é o que possui a menor porcentagem de graduados na América Latina. 21% dos brasileiros entre 25 e 34 anos concluíram o ensino superior. A Argentina possui 40% de seus jovens formados, o Chile, 34%, a Colômbia, 29%, e a Costa Rica 28%.