A greve dos auditores fiscais da Receita Federal se arrasta por praticamente cinco meses. O movimento parece distante da rotina da maioria dos brasileiros, porém seus efeitos vêm se acumulando de maneira silenciosa e concreta no cotidiano da população.
A paralisação teve início em 26 de novembro, quando os auditores reivindicaram a recomposição salarial por perdas inflacionárias desde 2016. A defasagem é de cerca de 28%. Embora o governo tenha concedido um reajuste de 9% em 2023 e regulamentado o chamado Bônus de Eficiência em 2024, a categoria considerou as medidas insuficientes.
Desde então, a negociação não avançou, mesmo após reunião com o secretário Robinson Barreirinhas e o Ministério da Fazenda no último dia 15. A categoria mantém 30% da força de trabalho em atividade, conforme determina a legislação, mas alerta para os prejuízos crescentes caso não haja avanço nas negociações.
Onde a greve da Receita Federal te afeta?
Se você tentou importar algum produto recentemente, é bem possível que tenha enfrentado atrasos na liberação da encomenda. Isso porque a fiscalização nas aduanas ficou mais rígida e demorada. Empresas também estão sentindo os impactos, com mercadorias paradas e prejuízos logísticos estimados em mais de R$ 3,5 bilhões.
O acúmulo de mercadorias nos terminais e os atrasos na liberação impactam diretamente o custo final dos produtos. De acordo com o Sindasp (Sindicato dos Despachantes Aduaneiros de São Paulo), cada dia de atraso gera um aumento de 2,1% no valor dos produtos, comprometendo ainda mais a competitividade das empresas brasileiras no mercado internacional.
Outro reflexo visível foi no Imposto de Renda: o modelo pré-preenchido da declaração, um dos mais usados por contribuintes, só foi disponibilizado em abril, com duas semanas de atraso em relação ao calendário oficial. Conforme a greve da Receita Federal avança, há também risco de atraso no calendário de restituição do IR, previsto para começar no próximo mês.
Uma fatura que chega para todos
Além dos efeitos diretos, a paralisação já impacta a arrecadação federal. A Receita estima perdas de cerca de R$ 14,6 bilhões até março, o que pode afetar investimentos públicos e o equilíbrio das contas do governo. Esse cenário amplia o risco de cortes ou atrasos em áreas como saúde, educação e infraestrutura.
E agora?
Prestes a completar cinco meses de greve, o impasse segue sem perspectiva clara de resolução. Os auditores prometem manter o movimento enquanto não houver negociação efetiva, e o governo, até agora, não indicou novos passos.
Enquanto isso, o impacto dessa disputa continua a reverberar, seja em pacotes que não chegam, no IR que atrasa, nos preços que sobem e no serviço público que anda mais lento.
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