Uma família brasileira, que saiu de um pequeno município em Goiás, enfrenta a iminente deportação nos Estados Unidos da América (EUA). Eles tiveram o pedido de asilo humanitário negado pela Justiça estadunidense.
O casal e o filho menor de idade alegaram sofrer perseguição religiosa no Brasil por praticarem o Candomblé. A religião de matriz africana é uma das mais atingidas por casos de intolerância no país.
A decisão foi tomada no último dia 15 pela Corte de Apelações do Nono Circuito, em San Francisco, Califórnia. O estado dos EUA tem sido palco atual de protestos contra ações de deportação em massa, em meio ao endurecimento das políticas migratórias.
Intolerância religiosa como argumento
Na petição, a família relatou ter sido alvo de agressões motivadas pela religião e mencionou outros episódios de violência religiosa contra praticantes do Candomblé e da Umbanda. Segundo o Censo 2022, apenas 1% da população brasileira se declara adepta dessas religiões, o que as torna minorias frequentemente perseguidas.
Já o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania aponta que o Brasil registrou 3.853 denúncias de intolerância religiosa em 2024 — um salto de mais de 80% em relação ao ano anterior.
Apesar de reconhecer a realidade da discriminação religiosa no Brasil, a Corte considerou que a família não conseguiu comprovar que o Estado brasileiro foi conivente com a perseguição ou falhou ao protegê-los.
“Que se mudem para o Nordeste”
Um trecho da decisão chamou atenção por seu tom estereotipado e pela solução inusitada sugerida. Os juízes dos EUA sugeriram que família retorne ao Brasil, mas se mude para o Nordeste. Na região, segundo a Corte, o Candomblé seria “popular e celebrado”.
“Como o requerente principal e sua esposa têm habilidades laborais transferíveis, seria razoável se mudarem para o Nordeste, onde poderiam viver com segurança”, diz o texto da decisão.
No entanto, dados do próprio Censo brasileiro contradizem essa visão simplista. O estado com maior proporção de praticantes de religiões afro-brasileiras não está no Nordeste, mas sim no Rio Grande do Sul, com 3,2% da população.
E quando se trata de intolerância religiosa, a Bahia, tradicionalmente associada às religiões de matriz africana, aparece apenas em terceiro lugar em número de denúncias, atrás do Rio de Janeiro e de São Paulo.
O caso da família goiana ocorre em um cenário de crescente tensão entre comunidades de imigrantes e autoridades americanas. A comunidade brasileira nos EUA relata insegurança diante da possibilidade de deportações em massa, tema recorrente na política migratória norte-americana.