ANÁPOLIS GOIÁS
VIGÍLIA FRANCISCANA
Atualizado em 05/12/2024 - 10:12
Fundada em Anápolis, ONG migrou foco para promover esportes eletrônicos e passou a ser investigada (Foto: Manoel Campos/Associação Moriá)

A Controladoria-Geral da União (CGU) investiga uma organização com raízes em Anápolis por suspeitas de superfaturamento em contratos. Fundada em 2017, a Associação Moriá iniciou as atividades na cidade por meio de convênios firmados com a gestão municipal e, posteriormente, expandiu a atuação para o âmbito nacional. Antes focada em ações sociais, a ONG diversificou seu foco, passando a atuar em áreas como jogos eletrônicos, incluindo Valorant e Free Fire, além de promover iniciativas educacionais relacionadas a esses temas e outros projetos em diferentes regiões do país.

A ONG entrou na mira da Controladoria-Geral da União (CGU) após ter o nome incluído em um relatório do órgão de controle. Somente em dois contratos analisados, a CGU apontou “gastos evitáveis” que somam R$ 1,7 milhão, além da “ausência de análise crítica” na aprovação de orçamentos pelo governo federal. O prejuízo, no entanto, pode ser ainda maior à medida que outros convênios sejam investigados. Nos últimos três anos, a Associação Moriá recebeu R$ 90 milhões em emendas parlamentares, sendo uma parcela significativa desse montante (R$ 37 milhões) originada de deputados do Distrito Federal (DF).

Locações com valores surreais

No Orçamento de 2024, a entidade recebeu emendas para levar os “Jogos Estudantis Digitais (Jedis)” para Goiás, Alagoas, Amazonas, Rondônia, Bahia, Minas e Distrito Federal. O objetivo é ensinar em escolas jogos online como Valorant, LOL, eFootball e Free Fire. No caso do projeto do Jedis Brasília, aprovado pelo Ministério do Esporte, há orçamentos de aluguéis que extrapolam os valores tidos como naturais.

Por exemplo, o plano de trabalho do evento prevê atendimento para três mil pessoas, mas as contratações são para cinco mil. Há a previsão de aluguel de 62 computadores ao custo de R$ 2,2 milhões para um período de 10 meses, equivalendo a R$ 35 mil por unidade. Para comprar um computador semelhante, tem-se um custo médio de R$ 4,5 mil, conforme identificado pela CGU. A ONG ainda usa cerca de 40% do dinheiro das emendas em festas de abertura ou encerramento.

A Associação Moriá, por meio de nota, nega qualquer tipo de irregularidade, afirmando respeitar os “requisitos, critérios e padrões contratados”. Além disso, a ONG acrescenta que locar os itens é “mais vantajoso” do que a adquiri-los. “Os preços contratados pela Moriá para a locação contemplam também a montagem, a desmontagem, o fretamento e a configuração das máquinas -custo bastante elevado”, menciona.

foto de computadores no Jedis Rio de Janeiro, organizado pela Associação Moriá
ONG locou computadores por valor 11 vezes maior que o de compra (Foto: Manoel Campos/Associação Moriá)

Os Jogos Estudantis Digitais já executados, em execução ou em processo de aprovação, as mesmas seis terceirizadas apresentam orçamentos e concorrem por mais de 70% do valor total do projeto. Contudo, as empresas, todas de Brasília e arredores, firmam contratos mesmo quando o serviço é em outro estado.

Histórico da Associação Moriá e passagem de bastão

O pastor Marcos Araújo e sua esposa Elida criaram a Associação Moriá em 2017 e, durante cinco anos, se restringiram a projetos de cunho social. O histórico da entidade com a Prefeitura consistia em um evento natalino e dois convênios, incluindo prestação de serviços no Esporte em Ação, programa descontinuado pela gestão municipal. Confira, no final da reportagem, a lista de contratos firmados pela ONG em Anápolis.

Enquanto geridas por Marcos (dir.) e Elisa (esq.), ações da Moriá eram registradas com frequência nas redes sociais da ONG (Foto: Reprodução/Facebook)

Já em 2022, ao receber emenda de R$ 4 milhões, a organização havia trocado de gestão: já era presidida por Gustavo Henrique Fonseca de Deus, ex-militar e funcionário terceirizado no Ministério da Cidadania. Posteriormente, chegaram à ONG o capitão reformado José Ferreira de Barros e Daniel Raomaniuk Pinheiro Lima, respectivamente, vice-presidente e diretor administrativo da Moriá.

Com nova direção e endereço em Brasília, a Associação Moriá foi uma das ONGs que mais receberam emendas no Orçamento de 2024, com 13 vinculadas a cinco ministérios.

Contratos da Associação Moriá em Anápolis

Convênio Nº 000016/2019
Serviço: Apoio a projetos de cunho social.
Período: 11/03/2019 a 08/06/2019.
Valor: R$ 10.000,00.

Convênio Nº 000041/2019
Serviço: Prestação de serviços de práticas esportivas no Programa Esporte em Ação.
Período: 07/10/2019 a 31/12/2021.
Valor Inicial: R$ 187.500,00.

1º Termo Aditivo ao Convênio Nº 000041/2019
Serviço: Continuidade das práticas esportivas no Programa Esporte em Ação.
Período: 20/12/2019 a 31/12/2020.
Valor Adicionado: R$ 82.500,00.

2º Termo Aditivo ao Convênio Nº 000041/2019
Serviço: Continuidade das práticas esportivas no Programa Esporte em Ação.
Período: 28/12/2020 a 31/12/2021.
Valor Adicionado: R$ 82.500,00.

Aditivo Encerrado ao Convênio Nº 000041/2019
Serviço: Ajuste financeiro do contrato.
Data: 26/04/2021.
Valor Deduzido: R$ 187.500,00.

A reportagem entrou em contato com a prefeitura de Anápolis e aguarda retorno.

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