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Atualizado em 13/01/2024 - 10:36
"Tatuagem na córneas" pode provocas inflamação e irritação (Foto: Captura)

Viralizou no início deste ano um vídeo que mostra o resultado de uma cirurgia realizada para mudar a cor dos olhos. Uma brasileira com visão saudável afirma que realizou a ceratopigmentação na Suíça, por motivos meramente estéticos.

As imagens foram compartilhadas na página da clínica responsável pelo procedimento e já ganharam mais de 14 milhões de visualizações. Muita gente desejou fazer o mesmo procedimento, mas os médicos não recomendam a prática.

Confira o vídeo:

Recomendações

A mudança da cor dos olhos por meio de pigmentação feita em intervenção cirúrgica é um  procedimento de alto risco, com resultados irreversíveis, e deve ser realizado apenas sob estrita recomendação médica.

O Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), informa que o procedimento é recomendado exclusivamente para pessoas que perderam a visão e pode ser realizado apenas quando a córnea já está comprometida. O Conselho Federal de Medicina (CFM) também não autoriza o uso da técnica com essa finalidade.

Na maioria das vezes, tal procedimento é indicado somente para pacientes com cegueira permanente (ou com baixa visão extrema) com o objetivo de tentar recuperar a aparência de um olho normal. Dentre os problemas que podem ser causados pelo uso indevido dessa técnica estão o surgimento de lesões na córnea, que podem ser persistentes e levar à perfuração do olho, infecções graves (até no interior do olho), e aumento da pressão dentro do olho.

Pacientes que já usaram a técnica informam dificuldade de enxergar, dor no olho, ardência, sensação de areia, aversão à luz e lacrimejamento persistente. Todas essas situações podem levar à redução da visão do paciente, seja na periferia ou no centro da visão, evoluindo, em alguns casos, para a cegueira permanente.

Micropigmentos

Na chamada “tatuagem da córnea”, ou ceratopigmentação, é empregada uma técnica cirúrgica na qual micropigmentos de diferentes cores são implantados nas camadas mais internas da córnea para alterar sua coloração. O procedimento é destinado, principalmente, ao tratamento de manchas brancas que acometem os olhos de pacientes cegos.

Ceratopigmentação para cobertura de um olho com cegueira (Foto: Reprodução / Hospital de Olhos Dr. Ricardo Guimarães)
Ceratopigmentação para cobertura de um olho com cegueira (Foto: Reprodução / Hospital de Olhos Dr. Ricardo Guimarães)

“Muitos pacientes que apresentam cegueira permanente em um olho sofrem com o estigma social que sua aparência pode provocar. A ceratopigmentação é uma técnica indicada para casos em que o paciente cego não se adapta à lente de contato cosmética (lente de contato colorida), ou quando não há indicação de evisceração ou enucleação (retirada do globo ocular) para adaptação de prótese ocular”, esclarece a cirurgiã oftalmologista Juliana Feijó Santos.

“É importante enfatizar que a ceratopigmentação refere-se apenas à coloração corneana, sendo a modificação da coloração escleral (a parte branca do olho) totalmente proscrita (não deve ser realizada)”, destaca a oftamologista. Este  outro procedimento consiste no preenchimento da parte branca do olho com tinta, normalmente preta, e é realizado por adeptos extremos das modificações corporais.

“Como em todos os procedimentos cirúrgicos, os principais riscos são de infeção e inflamação do olho operado”, alerta Juliana Feijó, especialista em córnea. Ela ressalta ainda que são poucas as evidências científicas dos efeitos de longo prazo do uso de pigmento no estroma corneano, corroborando a necessidade de cautela na busca pela ceratopigmentação. Outro ponto do alerta do CBO vem do fato da ceratopigmentação dificultar futuros exames e procedimentos oculares, como o mapeamento de retina e a cirurgia de catarata.

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