O jornalista canadense Renaud Philippe, 39 anos, e sua esposa, a antropóloga brasileira Ana Carolina Mira Porto, 38 relatam ter sido espancados junto com diversos indígenas do povo Guarani Kaiowá. Nesta quarta-feira (22) vários homens encapuzados com armas de fogo e facas teriam cercado parte do território Pyelito Kue, as agressões foram registradas em fotos (veja a seguir).
O território ocupado pelos indígenas neste sábado (18) era habitado pelos Guarani Kaiowá até 1928, quando começaram a ser expulsos do local. A área é identificada como terra tradicional e delimitada pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) desde 2013, mas ainda aguarda demarcação.
Como a área atacada está sobreposta pela Fazenda Maringá, na cidade de Iguatemi (MS), há a forte suspeita de que os agressores teriam sido enviados por fazendeiros insatisfeitos com a presença dos indígenas na região.
Ana e Renauld estavam em Pyelito Kue para gravar um documentário sobre o conflito fundiário na região. No dia das agressões eles haviam saído do território com o engenheiro florestal Renato Farac Galata, de 41 anos, para acompanhar um assembleia do povo Guarani Kaiowá, a 140 quilômetros de Iguatemi. Já de volta a cidade e no caminho de volta, após visitar outros territórios e comer um lanche, os três encontraram uma equipe do Departamento de Operações de Fronteira, da Polícia Militar (PM), que os abordou.
Em depoimento registrado em boletim de ocorrência, eles afirmam que os policiais disseram que estavam apenas patrulhando a região, sem mencionar nada que preocupasse o trio. Quando retornavam à aldeia, havia vários carros bloqueando a estrada, com dezenas de homens junto aos veículos, muitos deles encapuzados e exibindo armas. Um deles teria se aproximado do trio e os alertado para ir embora e dito que ali “ficaria perigoso”.
Agressões
Forçados a voltar para a área urbana de Iguatemi, Ana, Renaud e Renato, foram seguidos por parte dos homens que, ao alcançá-los, os fizeram descer do carro e se deitar no chão. O jornalista se identificou e explicou que estava ali a trabalho, o que não evitou as agressões com chutes nas costas e costelas.
Renaud conta que um dos agressores cortou um pedaço de seu cabelo com uma faca, ameaçando fazer o mesmo com Ana, enquanto parte dos homens mascarados os agrediam, outros vasculhavam seus pertences pessoais. Foram roubados os passaportes de Ana e Philippe, de cartões bancários, um crachá de identificação de jornalista internacional, duas câmeras e lentes fotográficas, baterias, dois celulares e uma bolsa, entre outros objetos.
Ana, Philippe e Galata afirmam ter sido ameaçados de morte caso não deixassem a região no mesmo dia. Libertados, os três encontraram uma equipe do Núcleo de Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas, da Defensoria Pública estadual, que realizava uma inspeção próxima ao local onde o trio afirma ter sido agredido. A Força Nacional chegou ao local apenas depois das agressões, quando os homens armados já haviam se retirado.
“Eu nunca vi um ódio assim. Isso foi o mais assustador”, disse Ana em entrevista ao Brasil de Fato. “Coletamos relatos de violências sofridas pelo povo Guarani há dois anos, é muito sofrido ouvir. Mas ver esse ódio na sua frente é impressionante”, conta.
“Ver a polícia, ver que nos viram, viraram a cabeça e se retiraram, é inacreditável. Não há como fugir da pergunta: a quem eles estão servindo?”, questiona Renaud, que trabalha há 20 anos em áreas de conflito e afirma nunca ter visto algo similar.
Em nota, a Defensoria Pública do Mato Grosso do Sul confirmou que está acompanhando o caso dos profissionais “agredidos em uma área de retomada” de terras. Já a Defensoria Pública da União (DPU) informou que uma defensora federal também esteve com as vítimas e relatou que Ana, Philippe e Galata sofreram várias lesões e estavam bastantes assustados
* Com informações da Agência Brasil e Brasil de Fato